quarta-feira, 22 de abril de 2020

Papa Francisco compartilha sua visão sobre as consequências da pandemia

Segundo ele, experiência de hoje reflete, de muitas maneiras, a história dos discípulos de Jesus após sua morte. 'Não podemos nos permitir escrever a história presente e futura virando as costas ao sofrimento de tantas pessoas', disse Francisco (Filippo Monreforte/ AFP)

O papa Francisco apresentou "um plano para a ressurreição" da humanidade em meio a uma crise global que colocou os povos e a economia do mundo de joelhos. Ele compartilhou suas ideias em uma meditação exclusiva para Vida Nueva, um semanário espanhol para religiosos, na qual reflete sobre a pandemia do coronavírus à luz da ressurreição de Jesus.
"Un plan para resucitar" ("um plano para ressuscitar") é o título que escolheu para a reflexão. Nele, Francisco não esconde sua preocupação com a crise causada por uma pandemia que infectou mais de 2 milhões de pessoas, causou a morte de mais de 140 mil pessoas e originou estragos na economia mundial. Somente na Espanha, 190 mil pessoas foram infectadas e 19,6 mil morreram.
O papa Francisco diz que nossa experiência hoje reflete, de muitas maneiras, a história dos discípulos de Jesus após sua morte e sepultura. Como eles, "vivemos cercados por uma atmosfera de dor e de incerteza" e perguntamos, como as mulheres que esperam no túmulo: "Quem vai tirar a pedra [do sepulcro]?"
Francisco compara a pedra que selou a tumba de Jesus às lápides da pandemia que "ameaçam enterrar toda a esperança" para os idosos que vivem em total isolamento, para as famílias que carecem de comida e para os que estão na linha de frente, "exaustos e sobrecarregados".
Ele lembra, no entanto, que as mulheres que seguiram a Jesus não se deixaram paralisar pela ansiedade e pelo sofrimento. "Elas encontraram maneiras de superar todos os obstáculos", simplesmente "estando e acompanhando".
O papa observa que muitos, ainda hoje, estão seguindo o exemplo, incluindo “médicos, enfermeiras, pessoas que cuidam das prateleiras dos supermercados, trabalhadores nas fábricas de produtos de limpeza, cuidadores, pessoas que transportam mercadorias, agentes de segurança pública, voluntários, padres, religiosas, avós, professores e muitos outros". Todavia, como as mulheres do tempo de Jesus, o papa disse, todas elas perguntam: "Quem vai tirar a pedra?".
Francisco diz que muitos estão participando da paixão de Cristo hoje, pessoalmente ou ao lado de outros, e ele lembra a todos que: "Não estamos sozinhos, o Senhor vai adiante de nós em nossa jornada tirando as pedras que nos paralisam". Essa é a esperança que ninguém pode tirar de nós, diz o papa.
Francisco diz que os discípulos de Jesus descobriram algo que agora estamos aprendendo: "Ninguém é salvo sozinho". O sumo pontífice descreve o momento atual como um “momento propício” para nos abrirmos ao Espírito, que pode "nos inspirar com uma nova imaginação do que é possível".
De fato, hoje “as fronteiras caem, os muros desmoronam e todo o discurso dos fundamentalistas [integristas] se dissolve diante de uma presença imperceptível que mostra a fragilidade da qual somos feitos”. Porém, ele diz, “a Páscoa nos chama e nos convida a lembrar dessa outra presença discreta e respeitosa, generosa e reconciliadora, para que iniciemos a nova vida que nos é dada”.
Essa presença "é o sopro do Espírito que abre horizontes, acende a criatividade e renova a irmandade e nos faz dizer: 'Estou presente' diante da enorme e urgente tarefa que nos espera".
Reze conosco em Meu dia com Deus.
Francisco descreve o momento presente como um "tempo propício" para abrir nossos corações ao Espírito, que pode "nos inspirar com uma nova imaginação do que é possível". Ele lembra que o Espírito não permite "ser fechado ou manipulado por métodos fixos ou obsoletos ou, inclusive, estruturas decadentes", mas nos leva a "fazer coisas novas".
Neste momento histórico, Francisco diz: "Reconhecemos a importância de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral". Também entendemos que "para o bem ou para o mal, todas as nossas ações afetam os outros, porque tudo está conectado em nossa casa comum, e se as autoridades de saúde ordenam que permaneçamos confinados em nossas casas, são as pessoas que tornam isso possível, cientes de seus interesses e de sua co-responsabilidade no impedimento da pandemia".
Ele insiste que "uma emergência como o Covid-19 é superada em primeiro lugar pelos anticorpos da solidariedade". Esta lição "quebra todo o fatalismo em que nos envolvemos e nos permite voltar a ser os arquitetos e protagonistas de uma história comum", diz ele, e isso nos dá a oportunidade "responder juntos aos muitos males que estão afetando tantos de nossos irmãos e irmãs em todo o mundo".
"Não podemos nos permitir escrever a história presente e futura virando as costas ao sofrimento de tantas pessoas", diz ele. Citando o livro de Gênesis, escreve que o próprio Deus está nos perguntando: "Onde está teu irmão?" Ele expressou a esperança de que nossa resposta seja marcada pela "esperança, a fé e a caridade". De fato, "se agirmos como um povo unido, também diante das outras epidemias que estão nos atingindo, então podemos ter um impacto real".
Em relação a essas outras epidemias, Francisco levanta uma série de perguntas: "Somos capazes de agir de maneira responsável diante da fome, sofrida por tantos em um mundo em que de fato há comida para todos? Continuaremos olhando para o outro lado diante das guerras alimentadas pela [busca de] dominação e poder? Estamos dispostos a mudar nosso estilo de vida que submerge tantos na pobreza, promovendo e encorajando um estilo de vida mais austero e humano que possibilite um compartilhamento mais equitativo de recursos? Adotaremos, como comunidade internacional, as medidas necessárias para impedir a devastação do meio ambiente ou continuaremos negando as evidências [dessa devastação]? A globalização da indiferença continuará ameaçando e tentando a nossa jornada?"
O papa Francisco expressa a esperança de que, à luz da ressurreição, "encontraríamos os anticorpos necessários da justiça, da caridade e da solidariedade" para mudar o mundo. Ele pede a construção de "uma civilização do amor", que descreveu como "uma civilização da esperança", ao contrário da marcada pela "angústia e o medo, a tristeza e o desânimo, a passividade e o cansaço". Essa civilização "deve ser construída diariamente" e requer "o comprometimento de todos".

Nenhum comentário:

Postar um comentário