A afirmação de Jesus
pode soar estranha, se tomada no seu sentido superficial, pois todo ser
humano tem ouvidos e, excetuando os surdos, todos estavam em condições
de ouvi-lo. Mas o sentido das palavras do Mestre era bem outro. Para
entendê-lo é preciso recorrer à antropologia bíblica, para a qual o
"ouvido" tem um simbolismo importante. São muitas as imagens da Bíblia
referentes a este sentido do corpo humano.
O ouvido tem a ver com a
vida e o modo de proceder do ser humano. Quando alguém "abre os
ouvidos", demonstra o desejo de comunicar-se e de entrar em comunhão com
o seu semelhante. "Fechar os ouvidos" denota ruptura e recusa do outro.
"Clamar aos ouvidos de alguém" é sinônimo de inculcar-lhe uma ideia.
"Inclinar o ouvido" significa dar atenção ao outro. Estar "ao ouvido de
alguém" é estar em sua presença. "Falar no ouvido" é conversar em
segredo.
Interpelando os discípulos
para abrir os ouvidos e ouvi-lo, Jesus os exortava a darem atenção às
suas palavras para tirar delas lições de vida. As palavras do Mestre
poderiam ser entendidas de duas maneiras: como um apelo a se esforçarem
para ser o bom terreno onde a semente pudesse dar frutos abundantes; e
como um alerta para que contassem com diferentes tipos de pessoas, no
exercício da missão, sem se deixarem abater por isso. Ambos os casos
teriam incidência direta sobre a vida deles.
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