Cidade do Vaticano (RV) – No contexto da viagem do Papa à Suécia, em 31 de outubro, onde participará de uma celebração ecumênica nos 500 anos da Reforma protestante, a Rádio Vaticano entrevistou o Arcebispo Brian Farrell, Secretário do Pontifício Conselho para a promoção da Unidade dos Cristãos.
Dom Farrell – Passaram-se 500 anos do período das controvérsias entre católicos e protestantes. E nos últimos 50 anos viveu-se um clima diferente: não de rivalidade, de oposição, mas de uma procura pela unidade de todos os cristãos. O ecumenismo serviu para olhar as coisas de uma maneira mais aprofundada, ou seja, não de uma ótica unilateral, mas procurando entender também as razões da outra parte. Isto levou – após 50 anos de intenso diálogo teológico – a um novo modo de ver a Reforma.
Rádio Vaticano – É um sinal muito forte aquele do Papa e dos chefes do mundo luterano juntos para este aniversário...
DF – Sim, será a primeira vez que acontecerá algo do gênero. Todas as outras celebrações da Reforma, no passado, foram momentos de conflito, de triunfalismo de uma parte ou da outra. Desta vez, procuraremos comemorar juntos as coisas justas, boas, emergidas daqueles conflitos terríveis com consequências de grandes violências na história da Europa. Mas, no fundo, também estão aqueles impulsos positivos de reforma, de melhoramento da vida da Igreja que hoje podemos comemorar.
RV – Este evento nasce do paciente diálogo de 50 anos...
DF – É precisamente isto: duas realidade juntas. É o diálogo da verdade, ou seja, o esclarecimento das dificuldades teológicas, os motivos mais profundos das nossas divisões, mas é também o diálogo da vida, no qual católicos e luteranos vivem juntos em um clima mais ecumênico, de mútua aceitação e fraternidade. Há um grande impulso à colaboração. O povo em nossas Igrejas locais impele para que as divisões sejam superadas. E isto é algo magnífico.
RV – O comunicado da Federação luterana mundial e do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos fala também de "dons" da Reforma, que talvez sejam difíceis de compreender para aqueles que veem nela somente um período de conflito e divisão...
DF – Pensemos ao início: o que Lutero queria? Queria que fossem corrigidos os abusos que – devemos aceitar – estavam presentes na vida da Igreja. Infelizmente, as coisas aconteceram de maneira diversa e aconteceu a divisão. Todavia, aquela procura por uma Igreja mais santa, mais vital, mais honesta é um impulso positivo que com o tempo, por meio do Concílio de Trento e da vida dos últimos século – particularmente nos últimos anos sob o impulso da graça do Concílio Vaticano II –, fez de muitos dos chamados de Lutero parte da vida da Igreja. (PH/RB)
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